As Minas
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Meu pai é com certeza um dos responsáveis pelo meu prazer em cozinhar. Lembro-me de sua couve refogada com alho absurdamente bem cortada (finiiiiinha), dele retirando um tanto de feijão antes de temperá-lo para comer com açúcar (coisa de japonês e nada gastronômico), acordando cedo para preparar com esmero o almoço, impressionando meus amigos nos churrascos com um sabor diferente (muito tempo depois descobri que ele usava shoyu ao temperar a carne), de nossas incursões pelo “país” de Minas atrás de peixes nos rios e iguarias de beira de estrada. Ahhh, aquele cheiro de “venda” entulhada de lingüiça, fumo-de-corda, café torrado, galinhas vivas e sacos de alpiste, arroz e feijão na porta. Cachaça “da boa”, torresmo, ovo colorido, carteado e poeira feita pelo FNM roncando na subida. Anzol fincado no dedo, cobra rondando o puçá e café coado. Matadouro da família do vô Dito com cheiro de morte e mortos imortalizados em fotografia na parede das casas. Desandei da comida pras viagens. Tudo sempre foi assim comigo. Viagens e comida, comida propiciando viagens e eu sempre com fome de estradas.